sábado, setembro 23, 2006

Arrasto

Somos arrastados. Para sempre arrastados. Tentamos lutar , mas a multidão comprime-se contra nós , esmagando-nos e atando-nos os movimentos. E seguimos com ela , sempre à espera de um buraco por onde sair .
Há quem se contente em seguir com a corrente , aceitando o que a vida lhe dá com um encolher de ombros resignado e um olhar agradecido , acreditando que a sobrevivência e a esperança de realização se sobrepõe aos ideais tão estimados.
Outros , inamovíveis , continuam a esbracejar , tentando assim quebrar a incontrariável corrente. Alguns , desdizendo-me , vencem-na e saem , alcançando o objectivo e ficando a observar como meros espectadores , saboreando a doce vitória. Os que não o fazem , continuam o seu esbracejar permanente ,quais autómatos mímicos. Até que se cansam e se juntam aos resignados , ou mergulham na inconsciência , sendo naturalmente expulsos pelo sistema e dando à costa como matéria engolida pela escuridão.
Quem sai pelo buraco , junta-se aos que a venceram , olhados e olhando com pena para os resignados que se deixarem ir , esperando que afinal não seja tão mau assim.
Quem perde o buraco , junta-se aos restantes na interminável corrente do quotidiano.

domingo, setembro 17, 2006

Voltei

Voltei , e recomecei a postar.
Como podem ver , já estão cá mais dois textos:
"A hora da revolta"-Uma experiência de conto
"Esforço"-Um(a tentativa de criar) um artigo de opinião.

Espero que gostem.

Hora da revolta

Abres os olhos e sais da bruma. Finalmente deixaste a escuridão. Levantas o teu maltratado corpo e gritas.
Um grito de libertação. Um grito de vida. Um grito que nasce na profundidade do teu ser .
Que te sobe das entranhas e explode num uivo prolongado de prazer.
Recuperas. Cheiras. Vês. Tacteias. Sentes. Descobres. Recordas.
Recordas o céu estrelado , e a lua , tua conselheira e amante platónica. Mas o resto...O que é? Será que este chão amarelecido e gasto , estas árvores que imploram por água , são as mesmas que tu conheceste quando eras livre?
E agora , livre outra vez , procuras um sinal do que foi , entre a devastação e miséria à tua volta.
E , sem aviso , largas a correr! Sente-lo tão intensamente como o ar que te entra no peito dorido , pois das duas sentias falta.
Mas tropeças. Cais. Levantaste. E continuas a correr. Pela planície deserta , vês sombras junto de ti, juntas a ti , que correm pelo mesmo motivo , o mesmo desejo que vos roubou outra vez a liberdade.
Agora a planície move-se. São aos milhares , todos numa corrida desordenada. Todos com o mesmo olhar sofredor , determinado e sequioso de vingança. Todos com o mesmo frenesi .Todos com a mesma loucura.
Uma eternidade passou. Todos estão exaustos. Tropeçam. Caem , ou deixam-se cair. Muitos não se levantam , embalados pelos braços da Morte. Mas tu resistes , curioso do que se irá passar e ávido de acção. De repente , a alegria perpassa no vosso rosto. Chegaram , sabem-no bem. –Mas Onde ? Perguntam. Retesam-se. Sabem que chegou o tempo. Sentem-no , mesmo sem o saber .A ansiedade aumenta , assim como a esperança.
É a hora da revolta.

Esforço

Nada. Não vale a pena. Todos os meus esforços engolidos pela escuridão. Tudo efémero , tudo inútil.
Mas não. Não vou ceder. Ceder à mínima dúvida é tarefa de fraco e conformista , mesmo sendo efémero e marcando só um impacte temporário , como todas as acções , tenho que tentar.
Tentar educar a população , entretê-la e cultivá-la.
Fazer a diferença , mesmo que não seja muita. Remar contra a maré, maré essa que levará muitas pessoas á iliteracia e incultura.
E para que serve ser culto ,letrado e informado?
Porque sendo cultas , letradas e informadas , as pessoas são autónomas , podem separar os factos da ficção , avaliar as pessoas pelo seu caracter e não aparência , distinguir as mentiras da verdade.
Podem formar a sua opinião com base em argumentos e não em promessas.
Podem perceber o valor de ideias com a liberdade , a solidariedade e a igualdade.
Enfim , só mais algumas ideias de um idealista esperançado.