sábado, setembro 23, 2006

Arrasto

Somos arrastados. Para sempre arrastados. Tentamos lutar , mas a multidão comprime-se contra nós , esmagando-nos e atando-nos os movimentos. E seguimos com ela , sempre à espera de um buraco por onde sair .
Há quem se contente em seguir com a corrente , aceitando o que a vida lhe dá com um encolher de ombros resignado e um olhar agradecido , acreditando que a sobrevivência e a esperança de realização se sobrepõe aos ideais tão estimados.
Outros , inamovíveis , continuam a esbracejar , tentando assim quebrar a incontrariável corrente. Alguns , desdizendo-me , vencem-na e saem , alcançando o objectivo e ficando a observar como meros espectadores , saboreando a doce vitória. Os que não o fazem , continuam o seu esbracejar permanente ,quais autómatos mímicos. Até que se cansam e se juntam aos resignados , ou mergulham na inconsciência , sendo naturalmente expulsos pelo sistema e dando à costa como matéria engolida pela escuridão.
Quem sai pelo buraco , junta-se aos que a venceram , olhados e olhando com pena para os resignados que se deixarem ir , esperando que afinal não seja tão mau assim.
Quem perde o buraco , junta-se aos restantes na interminável corrente do quotidiano.