terça-feira, setembro 04, 2007

Ciclos

Sulcos de fogo jazem sobre a carne queimada.

Pedaços de sonhos carbonizados derramando-se por entre os vales foliculares, em espasmos e urgências gorgolejantes ;
O miasma quente verte para o pó esvoaçante em fluxos marciais, apertos parasíticos que abraçam a melancolia da terra rija e cauterizada .

Rabiscos momentâneos esculpidos no vento: estertores de sombras de sonhos mortos.

Labaredas volteiam e revolvem a terra martirizada: dentes que brilham em clamores asfixiantes, línguas húmidas que pingam ácido.
Brilhos cáusticos e aquosos que se camuflam em relances cortantes, bruxuleando incertos no contraste entre o fogo e a noite, desfazem o solo claro em orgasmos chicoteantes e vómitos purgativos.
E o som dorme entre os montículos de cinza, embalado pela catarse das chamas.

O fogo extingue-se, semente hibernando no solo e palpitando no útero da respiração pulsante.
Chovem melodias esfuziantes, que acordam o que lateja no interior da Terra.
E toda Ela treme, na ânsia da esperada ressurreição...
E os sonhos irrompem como plantas:
Quebram secamente o miasma mole, que sucumbe por entre as gotas de chuva;Os gritos são absorvidos pela música que se funde no ambiente.

Todos os sonhos são esperanças, e todas as esperanças são eternas.