terça-feira, maio 29, 2007

Analgésicos (Breve , muito Breve)

Estou preso. Incerto num fado mole, rasgado por gotas de cansaço e suor seco que me rolam indolentemente pelas costas vergadas. Nuvens de poeira e lágrimas passadas voam à frente dos meus olhos, pérolas vidradas num passado omnipresente.
Ardem-me as retinas e as pupilas, como ossos de ébano incandescente.
O fogo espalha-se por um corpo crestado, milhares de formigas raiadas a gelo queimam-me constantemente as veias.
O edema na cara deixou de inchar e agora dói. Cobre-me a face em pulsares de aranhiço, pernas finas que não cessam de tremer e palpitar, numa ansiedade de ovo cósmico à espera de rebentar...
Seria sublime criar o Infinito a partir de um inchaço. Massa encefálica tornada estrelas cadentes. Carne e sangue aspergindo um universo de luz e cor.
E a suave névoa dos pensamentos vaporosos acariciando um mundo em formação.