domingo, setembro 17, 2006

Hora da revolta

Abres os olhos e sais da bruma. Finalmente deixaste a escuridão. Levantas o teu maltratado corpo e gritas.
Um grito de libertação. Um grito de vida. Um grito que nasce na profundidade do teu ser .
Que te sobe das entranhas e explode num uivo prolongado de prazer.
Recuperas. Cheiras. Vês. Tacteias. Sentes. Descobres. Recordas.
Recordas o céu estrelado , e a lua , tua conselheira e amante platónica. Mas o resto...O que é? Será que este chão amarelecido e gasto , estas árvores que imploram por água , são as mesmas que tu conheceste quando eras livre?
E agora , livre outra vez , procuras um sinal do que foi , entre a devastação e miséria à tua volta.
E , sem aviso , largas a correr! Sente-lo tão intensamente como o ar que te entra no peito dorido , pois das duas sentias falta.
Mas tropeças. Cais. Levantaste. E continuas a correr. Pela planície deserta , vês sombras junto de ti, juntas a ti , que correm pelo mesmo motivo , o mesmo desejo que vos roubou outra vez a liberdade.
Agora a planície move-se. São aos milhares , todos numa corrida desordenada. Todos com o mesmo olhar sofredor , determinado e sequioso de vingança. Todos com o mesmo frenesi .Todos com a mesma loucura.
Uma eternidade passou. Todos estão exaustos. Tropeçam. Caem , ou deixam-se cair. Muitos não se levantam , embalados pelos braços da Morte. Mas tu resistes , curioso do que se irá passar e ávido de acção. De repente , a alegria perpassa no vosso rosto. Chegaram , sabem-no bem. –Mas Onde ? Perguntam. Retesam-se. Sabem que chegou o tempo. Sentem-no , mesmo sem o saber .A ansiedade aumenta , assim como a esperança.
É a hora da revolta.