terça-feira, outubro 09, 2007

Silhuetas Incandescentes

São Sombras, senhor, são sombras.
Que saem do regaço da aurora e planam na brisa do tempo que passa pelo colo regado a giz e seda.

São sombras que trespassam o peito, como pombas em ramos ardidos.

E o corpo vagueia pelas calçadas – mãos manchadas de sangue e poeira , cotos mutilados fedendo em panos húmidos estendem-se esfomeados por entre as falhas do ar assobiante.
Rosas oxidadas desprendem-se das mãos flébeis, dançando por entre os interstícios de punhos e dedos sujos e esfarrapados. O sangue goteja da calçada à medida que os espinhos se enterram por entre os grãos até ao útero da cidade de fogo.

O caminho esvai-se de gente. O pão da cesta voa por entre as palmas dos pedintes como a brisa que antecede o furor do crepúsculo. Passos de cavalos retumbam por entre as paredes sangradas a cal:
Silhuetas recortando o carmesim da tarde. Jóias de chamas flutuando no amanhecer longínquo.
Porque o ferro forjado relampeja amaciado pelo fulgor da Estrela Vespertina ,enquanto se aproximam em ruídos metálicos e clangores atemorizantes.

Passo a passo.

São sombras, senhor, são sombras que revolvem o peito em vómitos secos e excruciantes.

Agigantam-se, cortantes e ameaçadores. E por entre o sangue escorrido do elmo e as folhas caídas da copa das árvores, perguntam:

“O que levas aí mulher?
Dentro da cesta, Por entre o regaço?”

“São sonhos, senhor são sonhos.
Sonhos e relâmpagos de água.”