domingo, janeiro 14, 2007

Sol Nulo dos Dias vãos

Desliza fluida e continuamente, como um rio feito de palavras e amor. Percorre-me o corpo num êxtase eterno e plácido, pequenas notas de felicidade que nascem e se estendem dentro de mim, percorrendo todos os milímetros do meu ser até se dissolverem no seio da escuridão exterior.
A escuridão que nos cerca a todos, durante dias tépidos de tardes nebulosas. A escuridão que nos cerca a todos, enquanto a melancolia desliza pelo vazio de encontro aos nossos sentidos desorientados, infiltrando-se viscosa e calmamente, com os seus braços de melaço a tactear a nossa alma indefesa. A escuridão que nos cerca a todos, enquanto esses mesmos braços nos agarram e nos esmagam de encontro a uma sonolência febril e hegemónica, que nos prende com mil correntes de tristeza e solidão.
Escuridão de dias vãos em que só nos apetece fechar os olhos exaustos e sonhar sonhos agitados, tentando fugir das barreiras que nos envolvem.
Mas mesmo assim, lutamos, movendo-nos com autómatos sonâmbulos e irrequietos, tentando fugir por uma qualquer brecha miraculosa criada num muro que só o Sol e o vento podem desfazer. Mas mesmo assim lutamos, andando de um lado para o outro com sorrisos controlados desenhados numa face apática, tentando fugir e ignorar a Dor suave que alastra dentro de nós.
E adormecemos finalmente. Depois de todas as tentativas de fuga, refugiamo-nos naquela que sabemos mais eficaz, mas que sentimos como mais desesperada...
Cedemos à estuporização ou à imaginação que está dentro de nós, com uma felicidade alimentada pela lembrança do que nos falta e pela esperança da reconciliação; Fechamos os olhos embalados por esta esperança, mas também pelo medo de voltarmos a acordar na mesma névoa asfixiante e ameaçadora que nos tolhe os movimentos e nos corta a respiração.
Quando acordamos, podemos ver o Sol triunfante a brilhar afastando a névoa e as sombras outrora escondidas a voltarem ao seu lugar aclamando o salvador, que as contempla num deleite piedoso e imortal, consciente que este ciclo não pode ser quebrado.
Ou podemos acordar outra vez no meio do azul doentio, com as nuvens ameaçadoras a lançarem sobre nós um vulto sedento de opressão.
Opressão, Opressão, Opressão.