domingo, agosto 13, 2006

Amazónia

Amazónia. O “Inferno Verde” para alguns”. O “Paraíso Azul” para outros.Com 6 milhões de quilómetros quadrados de área espalhados por 8 países (mais de metade (3,6 milhões, no Brasil) e 17% da água doce do Mundo, não é difícil imaginá-la como “Paraíso Azul”, nome, a meu ver mais que correcto, visto abrigar milhões de animais e plantas ainda intocados pela Humanidade. No entanto, só quem lá vai é que percebe bem porque alguns lhe chamam o “Inferno Verde”. Devido ao elevado número de seres vivos, água e temperatura, a humidade da Floresta Tropical Amazónica chega a atingir os 100%. Nesses dias de grande humidade, alguém que esteja dez minutos a fazer um esforço, mesmo que mínimo, fica banhado em suor. Outro problema é a malária essa epidemia que afecta as regiões com águas mais básicas, onde os mosquitos que a transmitem proliferam alegremente.
Fora isso (e os animais agressivos), a Amazónia é um sítio belo, onde os seus habitantes (Índigenas e caboclos) mantiveram uma relação estreita com a Natureza, e aprenderam a aproveitá-la sem a estragar. Claro que os outros Homens tinham de acabar com isso, aprisionando-os e devastando, cega, desmedida e cruelmente, a Floresta por eles (e por muitos outros) adorada, e imprescindível no seu valor intrínseco.
Passo a narrar a minha experiência, quando tive o privilégio de visitar e explorar uma parte ínfima dessa Floresta maravilhosa:
Aterrei em Manaus, uma cidade no meio da selva, espantado pelo engenho do Homem ao construía-la.
Durante a minha segunda estada lá, tive a oportunidade para ver o produto acabado da mistura entre ambição, dinheiro e megalomania: O Teatro Amazonas, uma obra impressionante, ainda mais quando a sabemos feita na selva, com belas escadarias e colunas de mármores, chão em pau-rosa, lustre e tapeçarias valiosas e azulejos (portugueses) belíssimos. Fiquei a saber que este Teatro foi projectado pelo Gabinete de Engenharia de Lisboa e que todos os materiais tinham sido trabalhados na Europa.
Na Floresta propriamente dita os dias foram uma mistura de felicidade e desconforto. Desconforto provocado pelo “bafo” provocado pela humidade, e pela constante preocupação com a picada dos (poucos) mosquitos, picada essa que podia transmitir Malária. Em todo o caso, já nos tínhamos prevenido, fazendo a profilaxia requerida.
Fomos sempre acompanhados de um guia e as nossas actividades estavam sempre predefinidas. No primeiro dia, fomos ao Encontro do Rio Negro com o Solimões (alguns dizem que é aqui que começa o Rio Amazonas, mas outros dizem que o próprio Solimões é o Amazonas.) é um espectáculo curioso, visto que se vê perfeitamente o encontro das águas (visto que o Rio Negro tem uma coloração (adivinhem…) mais escura e o Solimões tem um castanho terroso). De seguida fomos a uma aldeia de pescadores onde provámos caldo de piranha, carne de Caimão e peixe-gato (deliciosos). De seguida fomos à pesca das piranhas. Aí pesquei um… mandim (nunca pesquei piranhas enquanto lá estive).
No dia seguinte, fizemos uma caminhada pela selva onde o nosso guia, um índio chamado Artémio que tinha ido para a “civilização” aos 7 anos, mas que mantinha um contacto estreito com a Floresta , nos ensinou as técnicas índigenas de caça , nos mostrou as maiores formigas da Amazónia , nos fez andar de cipó e nos ensinou imensas coisas acerca da Floresta que nós desconhecíamos.
Seguiu-se o melhor sítio em que estivemos , o sítio onde mais nos divertimos e que mais apreciámos.
A “Selva dos Macacos”!Passo a explicar: Esta “Selva” é um espaço mantido pela Fundação Floresta Viva em que tratam de macacos encontrados pelos Militares(responsáveis pelas estradas e todas as infra estruturas construídas na Selva propriamente dita).Esta Fundação trata-os, e depois de um período de quarentena, começa a libertá-los gradualmente. Visto que são tratados, alimentados e mimados, muitos deles tornam aquele sítio na sua residência permanente , enquanto outros vão lá de quando em vez.
Para aumentar as receitas, a Fundação passou a autorizar que grupos vindos do Eco Lodge em frente (o Eco Lodge em que ficámos e que eu vou falar) os visitassem. Esses grupos são sempre muito bem recebidos pela Xica , de longe a macaca mais sociável do grupo e pelo Baiano(que ganhou o nome por ser capoeirista , estar sempre a fazer acrobacias).Fomos lá duas vezes, e da segunda ficámos lá um tempo muito animado a brincar com eles , que nos subiam para cima e nos puxavam os cabelos.
Outro momento memorável foi quando fomos à focagem (nocturna) de caimões e o Artémio agarrou num , que foi passado de mão em mão e fotografado. Esse momento inspirou-me a escrever o texto intitulado “Uma vida de caimão”.
Houve ainda outro que me impressionou:
Foi quando visitámos a tribo Índigena Sateré. Aí , além de nos mostrar as casas deles , a sua bebida de mandioca e os seus fogões , Artémio revelou-nos uma tradição(que eu sabia existente mas vaga) que esta tribo tinha:os Ritos de iniciação.São diferentes para o homem e para a mulher.
O do homem visa prepará-lo para a dor que pode sentir aquando da picada de uma cobra ou um acidente de caça e ocorre desta maneira:
A festa dura 24 horas e só tomam parte os Homens da tribo. Nessa festa os homens dançam e bebem uma bebida de mandioca fermentada , assim como o iniciado .O iniciado mete uma luva com as maiores formigas da Amazónia presas pelo ferrão nela (mais ou menos 70 nas mais pequenas (onde se mete mais vezes a mão e 300 na maior qiue só se mete uma vez) Quando isto acontece , as formigas despertam do torpor em que estavam e picam –no.De seguida , se não desmaiar , passa a mão por fogos(suposto analgésico ( que bem precisa , visto que as dores duram 24 horas) e é consagrado homem pela tribo.
O da mulher visa prepará-la para as dores de parto:
Aquando da primeira menstruação , as mulheres mais velhas reúnem-se à volta da visada e rapam-lhe o cabelo com pedras!Nalgumas tribos , chegam a arrancar-lhe os cabelos aos puxões!
Fizemos também uma viagem de canoa por um pedaço de floresta alagada:“igapó” em que tivemos a oportunidade de ver vários tipos de árvores e borboletas impressionantes e coloridas e uma pesca às piranhas infrutífera. O resto do nosso tempo foi passado no Eco Lodge , em que nos divertimos a tomar banho no rio Negro e nas piscinas Naturais , (duas coisas que apreciei muito) , a falar com as araras e papagaios que nos vinham debicar os pratos , a dormitar nas redes e a tentar fotografar os grandes e bizarros lagartos que havia no Eco Lodge(assim como os belos e variados pássaros , muito esquivos por sinal). Os quartos eram bons para o local onde estávamos embora fossem pequenos e os chuveiros fossem frágeis).Feitas as contas foi uma estada maravilhosa , embora não tivesse igualado o Pantanal .
Uma última nota para o Tropical Hotel , que ficámos aquando da nossa estada em Manaus. Ainda era relativamente distante de Manaus , portanto funcionava com uma espécie de resort , com tudo o que precisávamos lá dentro:
Lojas, restaurantes, piscinas de ondas , mini bosque , e até mini zoo!(Onde estava o único jaguar que alguma vi , e que inspirou o texto com o mesmo nome).
Embora imponente , grande e com todas estas infra estruturas , o hotel estava um pouco desleixado .(Isto também pode ser explicado pelo facto de o mesmo pertencer ao Grupo Varig , que enfrenta agora a falência).As notas negativas vão para a agencia de viagens que nos levou a Manaus e ao aeroporto da cidade , que é demasiado pequeno e modesto para o tráfego que agora tem