quinta-feira, julho 13, 2006

A Corrente

Estou sentado no meio da escuridão. Á minha frente, na avenida silenciosa, exceptuando o som de carros longínquos e de um grilo incessante, vejo dois cães numa luta muda, mas violenta. Passado algum tempo, desistem e seguem o seu caminho como pacíficos companheiros.
Uma massa escura de água estende-se à minha frente:
Guadiana ,rio de mistério e esperança, sustento de povos ao longo de vidas.
É nessa massa escura que eu me quero perder. Descobrir-lhe os segredos e perceber o que é.
Dir-se-ia uma entidade autónoma, viva, como nós .A Ciência diz que não, que é um “mero” conjunto de reacções físicas e mecânicas, um curso de água cuja finalidade é alimentar o Oceano(aqui tão perto).
Um Milagre portanto.
Porque o que é a Terra senão um Milagre que só agora começámos a desvendar? O que é senão um Ser, um Deus, uma Força que nos ultrapassa mas que alguns de nós julgam tão seguramente perceber?
Bonecos, fantoches autónomos capazes de destruir o cenário e o próprio teatro! é o que somos.
Sonhamos poder reconstruí-lo, remediá-lo!
Quem sabe se o sonho se torna realidade ou se o teatro se reconstrói sozinho, expulsando-nos de cena.
O grilo continua a cantar, impassível a tudo e a todos.
Pudesse eu ser como ele ,transformar-me nele e não me preocupar mais.
Não o faria; Preciso de ter razões para estar feliz ou deprimido.
Não sei se o grilo tem razões para estar como está, nem tampouco se gostava de ser grilo.
Sendo Humano, pelo menos entendo(ou julgo entender. Abençoada arrogância humana, que julga a tudo ser superior, só por ter tido a sorte que teve)as razões da depressão .
Os cães já se perderam, envoltos na escuridão e rodeados pelas brumas.
Até sempre Camaradas!