quarta-feira, dezembro 20, 2006

Diferenças

Cansada de caminhar na escuridão, encostei-me a uma árvore e deixei-me escorregar lentamente até ao chão, sentido o toque suave do solo nos meus músculos cansados.
Fechei os olhos durante pouco tempo, atenta aos sons que me rodeavam e saboreando aquele pequeno momento de descanso. Mas logo me levantei, porque gente como eu não pode descansar muito.
Os Condenados. Todos nos chamam assim, e nós próprios usamos esse nome como um orgulhoso estandarte que nos precede, desfraldado ao vento.
Mas muitos nos temem, odeiam e caçam. Não toleram os que são diferentes porque não acreditam na sua própria individualidade. Tornam-se uns iguais aos outros, como autómatos pintados furiosamente e à pressa. As mesmas opiniões, a mesma roupa, a mesma vida.
Por isso nos temem mais do que tudo. Porque nós somos não só ideologicamente, mas fisicamente diferentes:
Lycantropos, Nosferatus , Elfos e Anões. Todos diferentes mas todos iguais, na medida em que poucos nos amam e muitos no temem. Aqueles que amam, também são caçados. Chamam-lhes bruxos (nome que eles, ironicamente, adoptaram) e acusam-nos de crimes que eles próprios cometem.
Mesmo assim, começamos a crescer. As nossas cidades sem nome começam a aumentar, assim como o número de Condenados. Qualquer dia, seremos tantos que os outros nos terão que aceitar, e eu acredito que ainda estarei viva para ver esse dia.
Mas até lá, tenho que continuar a fugir, na esperança de alcançar uma cidade que me aceite.
Onde todos sejamos livres e a luz nunca se apague.